Domingo, 30 de Dezembro de 2012
Feitiçaria e questões passionais motivam maioria dos homicídios no centro de Moçambique
A Polícia de Tete, no centro de Moçambique, registou este ano 92 homicídios voluntários, na maioria motivados por questões passionais e acusações de feitiçaria, disse à Lusa fonte policial.
"A maioria dos casos está ligada à acusação de feitiçaria. Os jovens matam os pais e avós, basta terem cabelos brancos para os considerarem feiticeiros e de estarem a "atrapalhar" as suas vidas, sobretudo nos distritos vizinhos de Angonia e Tsangano", lamentou Mário Seda, porta-voz do comando da polícia em Tete.
As estatísticas policiais indicam que ao longo de 2012, 92 pessoas foram assassinadas na província de Tete, maioritariamente nos distritos de Angonia, Tsangano (norte) e CahoraBassa (sul).
Além da feitiçaria, os crimes estão associados e"desavenças sociais" e problemas passionais.
Em setembro, um chinês e a esposa foram assassinados a tiro, à saída da sua loja, no distrito de Cahora Bassa, alegadamente devido a questões passionais da sua ex-mulher, que pagou ao atirador, um membro das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) 70 mil meticais (1,8 mil euros) para se vingar da "quebra da relação".
Até março as autoridades tinham contabilizado 23 homicídios de homens que morreram depois de violados e "agredidos com piladores e paus" pelas esposas na província de Tete, na sequência de disputas passionais.
Os ataques das mulheres aos maridos aconteceram enquanto alguns dormiam, como vingança da acentuada violência física que sofriam. Algumas mulheres estão a cumprir pena por crime de homicídio voluntário e outras aguardam julgamento.
"Através do Gabinete de Atendimento da Mulher e Crianças Vitimas de Violência Domestica (GAMCVD) fazemos sensibilização às comunidades para pautarem pelo diálogo na resolução de conflitos. Só assim se pode pacificar uma sociedade", disse à Lusa Mário Seda.
O Governo, através da direção da Mulher e Ação Social de Tete tem desenvolvido campanhas contra a violência doméstica nas zonas rurais do distrito de Tsangano, além de Chiúta e Mutarara, também tidos como "distritos problemáticos".
A violência que acaba em homicídios é justificada como a manifestação de ciúme, falta de confiança, desentendimento no lar e falta de assistência, sobretudo de crianças após o divórcio. Geralmente o homem queixa-se à polícia quando se cansa da "convivência coerciva no lar".